Queremos estar felizes!
Somos instintivamente atraídos por coisas que nos fazem felizes e tendemos a repelir aquelas que julgamos nos entristecer. E aí é que está a confusão. Somos bombardeados por informações que nos convencem que qualquer coisa que não seja estar em uma praia, tomando uma água de coco ao sol seria um inferno. Palavras relacionadas a trabalho, rotina, esforço, etc. riscaríamos das nossas vidas, se pudéssemos. Referimo-nos a elas sempre que tentamos explicar o motivo de nossas dores.
Uma história interessante
Quando morávamos em Fortaleza; mudamo-nos pra lá ainda
jovens, eu, minha linda esposa Evany, com nossos dois filhos, Matheus e Marilia
ainda bebês; aprendemos muito. Ao explicar o motivo que nos levou a mudar de
São Paulo discorríamos sempre com detalhes interessantes. Havia, porém, um
motivo que dava sentido a tudo naquela loucura de sair de perto dos familiares
e amigos e nos radicar em um lugar tão longe e diferente de tudo o que
conhecíamos como mundo. Nos anos 90 uma mudança desta envergadura era
semelhante a ir pro Japão hoje! Não havia internet e a telefonia interurbana
era cara e sofrível. As distâncias eram muito maiores. Para podermos conversar
com nossos familiares precisávamos andar pela praia de Iparana até a vila, do
outro lado da duna de areia, onde havia um telefone público que fazia chamadas
de longa distância. Um dos poucos na península onde fomos viver assim que
chegamos às terras Cearenses.
A possibilidade de morar em um lugar de verão eterno, praias lindas e paisagens
exuberantes nos fazia explodir em expectativas. Para um paulistano, Fortaleza
era um dos maiores sinônimos de felicidade.
Em um dos dias que caminhava pelo calçadão da beira-mar no final da tarde, recolhendo em cada passo mais uma pequena porção daquela felicidade que fui buscar, me deparei com um carro de lanches que estava estacionado entre os outros que me chamou a atenção: Além de perceber que o casal era novo por ali, li uma plaquinha que dizia: “Sopas Deliciosas”. Percebi logo que não eram do Ceará, pois por lá as sopas são conhecidas como “Caldos”. Me aproximei e perguntei quem eram os forasteiros. Tratava-se de um casal simpático de senhores que aparentavam mais de 60 anos, com o espírito de 30. Durante a conversa, soube que eles estavam há pouco tempo na cidade. Trabalhavam com uma mini van, transformada em food truck, vendendo sopas de carne, frango e verduras, acompanhadas de maravilhosas torradas com azeite e orégano. Enquanto me fartava com um belo prato, disse que na próxima semana voltaria com certeza. Foi quando meu novo amigo me disse que na próxima semana eles não estariam mais ali, começando a me contar a história da vida deles.
Ele disse que sempre sonharam em viajar pelo mundo e que
haviam trabalhado a vida toda desejando com uma aposentadoria tranquila em
alguma praia paradisíaca. Conseguiram! Compraram um trailer, filhos criados,
saúde e um bom salário! Pé na estrada!
Foi aí que começou a parte esquisita da história: Disseram então que depois de
alguns meses não aguentavam mais a monotonia. Acordar a cada dia e sentar na
praia já não tinha graça nenhuma. Mesmo que buscassem um lugar mais bonito,
nada ficava legal.
A ideia que surgiu foi inusitada: Vamos vender alguma coisa? Começaram a fazer
as sopas e logo compraram a mini van que vai rebocada no motor home.
A vida deles então se transformou: Ao chegar a cada nova cidade precisavam
encontrar um bom local para vender as sopas, pedir autorização na prefeitura, ir
ao supermercado para comprar os ingredientes, etc. Tudo isso dava muito
trabalho e trazia muitas oportunidades de conhecer pessoas novas! Voltaram a
ser felizes!
Imaginem o tamanho do choque que levei ao ver que a palavra “trabalho” precisava ser riscada do rol de termos malignos e ser inserida entre aquelas que poderiam me fazer feliz!