Hoje completo sessenta anos. Torno-me um idoso (de carteirinha). Não vou avaliar meu passado, o que construí, o que conquistei, o que perdi, etc., etc. Já fiz isso aos trinta, aos quarenta, nos cinquenta. Parei.
Olho para mim hoje e desconfio que sofro de algum tipo de oligofrenia – um tipo de retardamento mental. Minha cabeça não bate com meu tempo. Vejo muitos amigos de sessenta e acho que tem alguma coisa de errado em mim.
“Faço um esforço para parecer um sujeito maduro, digno de ser chamado de sexagenário.”
Surpreendo-me fazendo coisas que é necessário lembrar para mim mesmo dizendo: “cara, tu já tem sessenta anos”. Só penso em bobagens, imagino um monte de criancices. Minha cabeça vive cheia de ideias para zoar, caçoar, fazer piada, inventar brincadeira, só maluquice. Talvez, quando eu crescer eu seja mais sério, mais circunspecto e na minha cabeça frequentem pensamentos que sejam cronologicamente equivalentes. Por enquanto não consigo. Mas uma só coisa posso dizer no alto dos meus sessenta anos bem vividos: Sou feliz, sinto-me bem comigo mesmo. Carrego memórias e desafios, passados e futuros, que no seu produto me fazem ser o que sou.
“Sou uma pessoa de idades. Há muitas idades morando em mim.”
Minha idade não tem a ver com o tempo, tem a ver com o momento, é coisa de instante. Não tenho aniversários, tenho humores. Antes eu era um feto, agora sou só afetos.