Um estudo de pesquisadores do Nupens/USP constatou que 20,8% das mortes são atribuídas a alimentos ricos em ingredientes não saudáveis.

Um estudo inédito de pesquisadores brasileiros no mundo atribuiu o consumo de alimentos ultra processados a pelo menos 57 mil mortes no país. O artigo, publicado nesta segunda-feira (7) na revista científica The American Journal of Preventive Medicine, mostra que das 541,2 mil mortes entre pessoas entre 30 e 69 anos, a Organização Mundial da Saúde (OMS) considera aquelas com menos de 70 anos. 10,5 % das mortes prematuras podem estar ligadas a alimentos ultra processados.
O que são alimentos ultra processados e como identificá-los
A má alimentação mata mais do que a violência neste país. De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, documento publicado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o número de mortes violentas no Brasil (como homicídios e roubos) em 2021 é de 47.500.
As descobertas servem de alerta, pois o consumo de alimentos ultra processados no país cresceu 20% na última década, representando entre 13% e 21% dos alimentos consumidos pelos brasileiros.
“Buscamos quantificar e demonstrar uma prioridade pública, o problema dos alimentos ultra processados no Brasil. É um problema global. Encarando-o como uma questão de saúde pública, é muito importante fazer escolhas políticas baseadas em alimentação saudável. a cultura alimentar brasileira que temos”, disse o principal autor do estudo, Eduardo Nilson, pesquisador do Nupens/USP (United States Epidemiological Research Center), em entrevista ao Nutrição e Saúde/Universidade de São Paulo) e à Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz).
Segundo especialistas, “essa dieta tradicional é muito saudável e não deve ser substituída por uma dieta excessivamente processada, que causa morte e tem um perfil nutricional mais pobre”.
A dieta tradicional a que ele se refere é o famoso arroz, feijão, proteína e salada. No entanto, muitos optaram por macarrão instantâneo, lasanha congelada e refeições vendidas em supermercados.
Esses alimentos, incluindo refrigerantes, biscoitos, chocolate, sorvetes, bebidas lácteas, etc., contêm uma série de aditivos químicos que afetam o desenvolvimento da obesidade e doenças como diabetes e pressão alta.
Os principais vilões eram sódio, gordura e açúcar, mas não eram os únicos, lembrou Nelson.
“A ideia de que os alimentos ultra processados contribuem para esse risco de doença e morte será regulada pelo que chamamos de nutrientes essenciais – sódio, gordura e açúcar -, mas não podemos nos concentrar apenas nisso porque, por meio do próprio processo de industrialização, eles acabam Destrói a matriz alimentar porque contêm aditivos alimentares. Tudo isso afeta a absorção de nutrientes, a microbiota intestinal e causa inflamação.”
Para chegar aos resultados, os pesquisadores do Nupens utilizaram os dados mais recentes da Pesquisa de Orçamentos Familiares do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que inclui informações sobre o que as pessoas comem. Eles conseguiram filtrar o consumo de alimentos ultra processados de acordo com a classificação NOVA (veja gráfico abaixo).
“Usamos uma abordagem de modelagem semelhante ao próprio estudo Global Burden of Disease, onde você vincula fatores de risco e desfechos de saúde a riscos relativos na literatura, o que é uma forte evidência do contexto em que foi analisado: população, óbitos e excesso de consumo A partir daí, usamos esses métodos para ver qual era a fração atribuível: em todos os fatores de risco que afetam o número total de mortes, por exemplo, cada porcentagem foi especificamente associada ao consumo de alimentos ultra processados”, detalham os pesquisadores .
A organização também estima que a redução do consumo de alimentos ultraprocessados em 10% a 50% poderia salvar de 5.900 a 29.300 vidas a cada ano, respectivamente.
“Se mantivéssemos dez anos de consumo, haveria 12 mil mortes a menos entre todas essas pessoas”, cita Nilson como exemplo.