Aos 77 anos, o cineasta Martin
Scorsese tem o cinema a seus pés. Com um currículo recheado de obras-primas,
consegue agora mais uma, num retrato denso e meticuloso sobre um dos seus temas
favoritos, a máfia, mas na terceira idade.
‘O Irlandês’, já em exibição na plataforma Netflix, é cinema em estado puro e é
também a estreia mais importante do ano. Além de voltar às intrincadas
histórias de vultos do crime, Scorsese ainda se socorre de três veteranos da
interpretação. No centro está Robert de Niro, como Frank Sheeran, homem que
começa como motorista de carnes e “pintor de paredes”, mas que se vai
enlaçar na família Buffalino.
Depois há ainda Al Pacino, excelente como o líder sindical Jimmy Hoffa, e Joe Pesci, exímio enquanto Russell Buffalino, homem de poucas palavras e de caráter dúbio.
‘O Irlandês’ mostra-se sem pressas – dura três horas e meia que se veem de um trago -, como um novelo perfeito de episódios que atravessam várias décadas e desembocam, com o protagonista já idoso, num asilo.
Há vontade em dar aulas de História, com referências, por exemplo, à crise dos mísseis de Cuba ou ao assassinato de JFK, enquanto se exibem planos grandiosos, cenas-sequência de antologia e um verdadeiro amor ao cinema.